segunda-feira, 18 de abril de 2016

A Sebenta do Inspector Policarpo #3 - Soluções

Um Fim Borrascoso

- Quem matou Laura Gusmão?
Rolando Norte

- De que pista relevante estava o inspector a falar?
Policarpo referia-se às gotas de sangue na cena do crime, que nos revelam quando este ocorreu.


Rolando afirmou que Laura deixou a bomba de gasolina quando o vento já soprava forte. Mas a forma circular das manchas sanguíneas indicavam que não deveria ainda correr grande vento quando a cabeça de Laura recebeu a fatal pancada com o poste. Isto mostrou duas coisas ao inspector: 1º O incidente não era um acidente provocado pela tempestade; 2º Rolando estava a mentir.

Eventualmente, com o decorrer do inquérito, Rolando Norte confessou tudo à polícia. No fatídico dia, Laura conto-lhe sobre o caso amoroso que mantinha com Joaquim e a sua intenção de fugir com o amante. Rolando estava também apaixonado por ela e a chocante revelação fê-lo explodir. Gritou e ameaçou Laura fazendo-a fugir pela sua vida, pensando que se fosse rápida o suficiente chegaria aos braços protectores de Joaquim. O desvairado Norte logrou apanhá-la, arrancou um poste meio solto da beira do caminho e deixou toda a sua raiva sair num só movimento de braços, apontado à cabeça da vítima. Quando a tempestade se abateu sobre a aldeia, o gasolineiro teve a ideia de contar às autoridades que Laura tinha saído do trabalho durante a tempestade e tudo não passava de um lamentável acidente.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

A Sebenta do Inspector Policarpo #3

Um Fim Borrascoso

Na meteorologia, como na vida, as mudanças súbitas de humor são sempre dignas de nota.

Gregório Policarpo, Inspector P.J.


Borrasca é uma das mais diminutas aldeias do distrito de Coimbra. Perdida no meio da serra, reconstruída sem atenção ao traçado histórico nem aos materiais típicos da zona, queda-se numa límbica irrelevância turística, amorrinhando a cada ano passado. Meia dúzia de casas amontoadas por entre os socalcos, o posto de gasolina do Sr. Rolando Norte e a Mercearia/Café “Toca do Lobo Mau” era tudo quanto existia naquele lugarejo. Nunca se passava nada em Borrasca. A envelhecida população era demasiado esparsa e desprovida de ambição, talvez devido aos anos gastos a pasmar onde “Judas perdeu as botas”, para investir esforço em qualquer empresa de real interesse comunitário - com excepção de mexericos sobre triângulos amorosos. Até porque a povoação tinha um bastante jeitoso.



Laura Gusmão era o vértice dessa forma geométrica metafórica. Recentemente chegada, juntamente com o marido Orlando, participantes num programa municipal de repovoamento do interior, vivia numa casa na Rua da Bica Seca a uns novecentos metros - por caminho sinuoso descendo até à estrada principal - da gasolineira onde pedira para montar uma barraca dedicada à venda de queijos caseiros fabricados por ela e pelo marido. Este empreendimento dos lacticínios regionais punha o casal em concorrência directa com Quim “Lobo Mau” cujo estabelecimento ficava a uns meros quinhentos metros do posto de abastecimento. A alcunha do taberneiro, que para além dos comes e bebes aproveitava a mercearia para vender bugigangas, roupas e mais que se lembrasse, não advinha, como seria de esperar, do seu mau génio mas sim da colecção de centenas de figurinhas de barro pintadas, representando ovelhas e carneiros de todos os tamanhos, expostos num móvel de madeira com quase dois metros de altura.

Uma animosidade natural cresceu entre Orlando Gusmão e Joaquim “Lobo Mau” que, curiosamente, não se estendia até Laura. A jovem esposa de Orlando possuía uma personalidade que se alimentava de atenção masculina e, infelizmente, havia pouco disso em Borrasca. Pouco tempo passou até se tornar hábito verem Laura a fechar a sua barraquinha para ir passar as tardes no café do Joaquim.
- Ele conta-me histórias ma-ra-vi-lho-sas - entoava ela, em tom de cançoneta para Rolando, o seu amigo do posto de gasolina. - E é tudo perfeitamente inocente. Mas o Orlando não compreende.
Numa tarde de inverno, quando o gotejar de tráfego cessou quase por completo, ventos fortes anunciados pela Protecção Civil (Alerta Amarelo) varreram a quietude bucólica de Borrasca. Uma hora mais tarde, estando já a tempestade amainada, uma carrinha “pão de forma”, levando uma família de turistas holandeses em busca de um WC aberto, cortou da estrada principal em direcção à aldeia. Subindo o caminho, na beira da estradeca, encontraram o corpo de Laura Gusmão. Chamados ao local, a GNR encontrou um velho poste de demarcação de terreno arrancado do solo. A ponta ensanguentada parecia corresponder à ferida aberta na nuca de Laura. Luís Estrada, inspector estagiário da PJ, examinou a ferida e as pequenas manchas perfeitamente circulares de sangue pingadas na terra batida da valeta.

- Parece que o poste se soltou com o vento e lhe deu uma traulitada na cabeça. Acho que não vamos ser aqui precisos.

- Talvez, - respondeu o inspector Gregório Policarpo, meio agastado por estar temporariamente emparelhado a um maçarico. - Mas antes de escrevermos no relatório que isto foi um acidente vamos dar uma vista de olhos às redondezas.

No topo da lista de afazeres estava falar com Orlando Gusmão. O marido de Laura parecia devastado.

- A Laura e eu tínhamos os nossos problemas, mas andávamos a tentar ultrapassar tudo. Prometeu-me que não visitava mais a loja do Joaquim. Hoje de manhã era só bom ambiente durante o pequeno-almoço. Depois desceu a pé até à bomba de gasolina para abrir a barraca. Garantiu-me que não ia ficar até tarde, que não devia haver grande trânsito por causa do alerta. Devia estar a subir para casa quando foi apanhada pela tempestade. 

Quim “Lobo Mau” parecia igualmente triste. O choque causado pela notícia atirou o solteirão de meia-idade para um inesperado estado de honestidade.

- Ela ia deixá-lo, - disse aos dois agentes. - Hoje. A minha irmã comprou-me esta porcaria desta loja. Podem confirmar com ela. A Laura ia fechar mais cedo para vir ter comigo; pegávamos no carro sem dizer “água vai” a ninguém.

- Quem acha disto tudo? - perguntou Luís ao parceiro enquanto desciam a rua. - A vítima estava a ir para casa ou para o snack-bar do Sr. Joaquim?

- É difícil ter a certeza, - admitiu Policarpo. - O caminho onde encontraram o corpo dá acesso a ambos os sítios. Por outro lado, com vento forte a bombar é provável que ela fosse procurar abrigo o mais rapidamente possível e o café fica mais perto. Vamos ver o que diz o dono do posto de abastecimento.

Rolando Norte mostrou-se também completamente destroçado com os acontecimentos, fazendo disparar os alarmes da suspeição na cabeça dos dois polícias.

- Ela era uma mulher fantástica. Tão cheia de vida. Não me disse nada sobre para onde ia. O negócio estava mais que morto e o vento começava a soprar forte. Não a devia ter deixado ir sozinha. É tudo culpa minha.

- E agora? - o estagiário coçava a cabeça enquanto Policarpo procurava as chaves do carro no casaco, todo encolhido do frio crepuscular. - Damos isto como acidente ou homicídio?

- Há, neste caso, uma pista muito relevante, - atirou o inspector destrancando finalmente o veículo. - E diz-nos que isto é um homicídio.

- Como…

- E também nos diz quem é o criminoso.

- Quem matou Laura Gusmão?

- De que pista relevante estava o inspector a falar?

sexta-feira, 1 de abril de 2016

A Sebenta do Inspector Policarpo #2 - Soluções

Baleia Caçada em Terra

- Quem é que os inspectores consideram o seu principal suspeito?
Diogo Lobo-Antunes

- Quais os fundamentos dessa suspeita?
O uso de uma arma de tão difícil manuseio sugere que o crime foi preparado apressadamente essa mesma noite. O local do crime e o facto de alguém ter remexido nos arquivos do clube sugere que o crime está ligado a assuntos do Yacht Club, reduzindo assim a lista de suspeitos para todos aqueles que participaram na reunião e também a sobrinha dos Baleia.

O criminoso sabia disparar a pistola, por isso deve estar ligado por laços de sangue ou afinidade à família Baleia. Assim a lista de suspeitos, novamente reduzida, passa a conter Celso Baleia e o casal Lobo-Antunes. Floriana Lobo-Antunes, que trabalhou até tarde num restaurante aberto ao público, tem um álibi facilmente verificável. Tanto Celso Baleia como Diogo Lobo-Antunes, ambos de baixa estatura, teriam a necessidade de utilizar um escalão improvisado - a cadeira em frente à lareira - para chegarem à arma do crime. No entanto a grave artrite nos joelhos de Celso impedi-lo-iam de andar a trepar mobiliário. Portanto, o suspeito principal é Diogo Lobo-Antunes.

Os inspectores acabaram por descobrir que Roberto Baleia suspeitava que o irmão andasse a desviar dinheiro dos fundos da associação e pediu discretamente a Lobo-Antunes, antes da reunião, para se encontrarem novamente no clube após todos os membros terem partido. Quando regressaram e reentraram no edifício (com ajuda da chave na posse de Roberto), começaram a vistoriar os registos financeiros arquivados na secretaria. As suspeitas contra Celso eram fundadas, mas o irmão desconhecia que Lobo-Antunes estava de conluio com o tesoureiro.

Apercebendo-se que o escrutínio dos arquivos revelaria a sua cumplicidade, Diogo saiu da secretaria desculpando-se com uma súbita vontade de visitar o WC, trepou a cadeira retirando a pistola da parede, chamou por Roberto para que ele saísse do escritório e, valendo-se da fraca mobilidade da vítima, trespassou-o com o arpão. O facto de estar a alguns metros de distância evitou que a sua roupa ficasse manchada com sangue - o que teria acontecido com métodos de homicídio mais confrontacionais.

O advogado limpou a arma, arrumou os ficheiros apressadamente e regressou a casa um pouco antes da esposa.

terça-feira, 29 de março de 2016

A Sebenta do Inspector Policarpo #2

Baleia Caçada em Terra


Hmm… Sempre tive esta dúvida: as baleias caçam-se ou pescam-se?
Gregório Policarpo, Inspector da P.J. 


Jorge Neves abanou ligeiramente a cabeça em discreto sinal de espanto. Mesmo após tantos anos como inspector da Polícia Judiciária nunca se havia deparado com qualquer homicídio perpetrado com um arpão. Até agora.


O corpo de Roberto Baleia, vice presidente do Azores Yacht Club de Aveiro, espetado à parede do Salão Nobre do clube como se de um insecto numa tábua de cortiça se tratasse, não era uma visão agradável.

Neves e as outras pessoas, reunidas à volta de uma mesa dessa mesma sala, estavam visivelmente mais à vontade agora que a medicina legal removera o cadáver. O seu parceiro, o Inspector Gregório Policarpo, recusara sentar-se e deambulava com ar taciturno pela divisão, meio atento à conversa.

- O falecido Sr. Baleia foi então encontrado às seis e meia da manhã pelo contínuo e pelo cozinheiro, que aqui chegaram juntos - recapitulou Jorge. - Ligaram-lhe logo a si, Sr. Hélder, que de seguida ligou para o 112 e para os restantes membros da direcção.

- Um resumo correctíssimo, senhor Inspector - disse, nervosamente, Eduardo Hélder, o presidente do clube. - Só de pensar que tínhamos todos estado com ele ontem numa reunião de direcção nesta mesma mesa… Até tenho calafrios.

- E a que horas foi essa reunião? - perguntou Policarpo aproximando-se.

- Bem, eu dei início à sessão às sete e meia e encerrámos duas horas mais tarde. Para além de mim estavam presentes o Roberto, claro, o seu irmão Celso que é o nosso tesoureiro; a dona Dália Marcondes, nossa secretária; o Diogo Lobo-Antunes, nosso conselheiro legal; e ali a Doralice Canedo, nossa vogal.

- Quem foi o último a sair? - Neves garatujava uns apontamentos rápidos no seu bloco.

- Saímos todos mais ou menos juntos - respondeu Doralice Canedo. - Eu e o Eduardo ajudámos o Sr. Roberto e o Sr. Celso a entrarem nos respectivos carros. Ambos sofrem de artrite ao nível dos joelhos e precisam sempre de ajuda a subir e a descer escadas e a entrar e sair dos carros.

- Que idade tinha o seu irmão, Sr. Baleia?

- O Roberto tinha setenta e dois anos - esclareceu Celso Baleia, um homem baixo, queimado do sol e com uma voz trémula. - Eu sou três anos mais novo.

- Foi directo para casa?

- Sim. E antes que pergunte, vivo sozinho. Apesar da idade cá vou andando o melhor que posso. Ao menos ninguém me atrapalha a vida.

- E o Sr. Hélder? Directo a casa? E o Sr. Lobo-Antunes? Dona Marcondes? Menina Canedo? - Todos responderam o mesmo: finda a reunião foram directos para as respectivas casas de onde não voltaram a sair. Floriana Lobo-Antunes, uma trintona alta, ergueu cuidadosamente a mão.

- Eu não estive na reunião, Inspector. Sou chefe de mesa no Cesto da Gávea, um restaurante aqui perto. Estive a trabalhar até às dez e meia e cheguei a casa por volta das onze. O Diogo já lá estava.

- A senhora é a esposa do Sr. Lobo-Antunes, não é? - perguntou Policarpo.

- Correcto. Mas também sou sobrinha dos meus tios Roberto e Celso, por isso é que tive de vir cá falar com os senhores. Não foi, querido? - disse ela, virando-se para o marido.

- Pelo menos assim o quiseste, meu amor - atirou, amuado, o diminuto advogado.

Neves levantou os olhos para o companheiro que observava a pistola de arpões. Esta tinha sido novamente montada sobre a lareira de pedra para que os investigadores tivessem uma ideia mais precisa do local antes do crime. Não foram encontradas impressões digitais na arma.

- É um objecto fora do normal - pensou alto, mais para o amigo que para os restantes, - não chega a meio metro de comprido.

- É um verdadeiro tesouro de família! - declarou Celso Baleia. - A pistola foi inventada pelo Capitão João Baleia do baleeiro Sant’Ana. Só ele a conseguia disparar. Foi emprestada aqui ao clube há já muitos anos, completa com um arpão sem corda.

- Não pensaram nos riscos de terem aqui uma arma real? - Policarpo dirigia-se ao Sr. Hélder.

- A pistola só pode ser disparada depois da activação de alguns interruptores que estão no topo - respondeu o presidente atabalhoadamente. - A sequência correcta é um segredo da família Baleia, passado de geração em geração. Achei que isso servia como segurança.

Celso Baleia aquiesceu tristemente.

- Estou a ver - Policarpo coçou o queixo pensativamente. - Quem gere o dia-a-dia do clube, Sr. Hélder?

- Eu. Mais uma das minhas funções como presidente.

- O edifício estava trancado quando o cozinheiro e o contínuo chegaram esta manhã. Quem tem chaves para estas portas?

- Para além de mim, só o contínuo, os irmãos Baleia e a Dália. Normalmente o contínuo é sempre o primeiro a chegar.

Jorge levantou-se emprestando as suas notas a Gregório. Reviram silenciosamente os factos constatados. O médico-legal deu como estimativa da hora do óbito as dez e um quarto. A cadeira situada mesmo em frente à lareira tinha uma pequena marca de lama seca no assento. A vítima tinha sido morta perto da porta que dava acesso à secretaria do clube, onde uma gaveta de arquivo estava aberta deixando entrever alguns ficheiros financeiros mal arrumados.

Os “Pê Jotas” sorriram um para o outro. Neves falou abruptamente para os presentes.

- Muito obrigado a todos. Podem ir. Depois entraremos em contacto convosco. Principalmente - sussurrou ao amigo - com o principal suspeito.

- Quem é que os inspectores consideram o seu principal suspeito?

- Quais os fundamentos dessa suspeita?

sexta-feira, 25 de março de 2016

A Sebenta do Inspector Policarpo #1 - Soluções

O Telefone das Más Notícias

- Comparando os vários testemunhos, quem mentiu?
Eurico Venceslau

- O que levou os inspectores a deslindar o caso?
O testemunho de Eurico sobre o casaco de lã.
Se Eurico viu o seu atacante apenas pelas costas, conforme afirmou, teria sido impossível distinguir o casaco de lã de uma camisola normal. Eurico estava obviamente a mentir.

Depois de pressionado pela PJ Eurico confessou, admitindo que ele e Vladimiro haviam encenado todo o rapto como forma de extorquirem dinheiro ao pai, sempre relutante em separar-se mesmo de pequenas maquias.

terça-feira, 22 de março de 2016

A Sebenta do Inspector Policarpo #1

O Telefone das Más Notícias


Num mundo cada vez mais “infectado” por meios de comunicação portáteis, receber um telefonema numa linha fixa só pode, com certeza, ser arauto de desgraças.
Gregório Policarpo, Inspector 


- Eu sei que devíamos ter chamado a polícia, - admitiu Eurico Venceslau resguardando um galo na nuca com a mão - mas o raptor disse que matava o meu irmão se informássemos as autoridades. E a verdade é que podíamos muito bem pagar o resgate.


Vladimiro Venceslau, filho primogénito de Jonas Venceslau, estava desaparecido desde terça-feira. Quarta de manhã, um indivíduo, identificando-se como único raptor, telefonou para a vivenda com um rol de exigências. O Venceslau mais novo (Eurico) teria de levar o dinheiro, em notas usadas de baixa denominação, num saco de desporto sem estampas. Foi-lhe detalhado o percurso que teria de fazer com o seu automóvel desde casa até um estacionamento pago da Baixa. Levaria depois o saco por uma quelha estreita da cidade que desembocava num parque infantil onde o deixaria dentro de um caixote do lixo.

Jonas Venceslau, apesar de conhecido sovina, prontamente e de bom grado aceitou os termos do resgate: pagamento à meia-noite, meio milhão de euros e nada de polícias.

- Eu estava mais ou menos a meio do beco - testemunhou Eurico - quando ouvi passos atrás de mim. Antes de me conseguir virar deram-me uma pancada seca na cabeça. Caí no chão mas não perdi logo os sentidos. Consegui ver as costas do gajo à luz do candeeiro de rua. Não sei dizer como era a cara dele porque não o vi de frente. Fugiu com o saco na mão. Era um tipo alto com sapatilhas brancas. Vestia calças de ganga e um casaco de malha de lã escuro. Peço desculpa mas não consigo ser mais específico.

Graças ao que apenas pode ser descrito como uma boa dose de sorte - raríssima na maioria dos casos criminais - um agente da PSP encontrou Eurico pouco tempo após o ataque. Reportou o crime e um carro-patrulha acorreu de imediato ao local. Dois indivíduos suspeitos, correspondendo à caracterização fornecida por Eurico, foram apreendidos nas proximidades.

- Então e agora é crime correr na rua? - declarou Pedro Bordão iradamente. Havia sido encontrado a duas ruas do local do ataque e desatou a correr assim que viu o carro da polícia. Pedro tem um longo cadastro de delitos menores - Estou em liberdade condicional mas levo uma faca no bolso. Para me proteger, é que há muito bandalho por aí à noite. Vê porque é que fugi?

O segundo suspeito é Arnaldo Amado, um sem-abrigo conhecido na zona.

- Epá, esta camisola nem sequer é minha! - protestou enquanto desabotoava um casaco de lã bastante usado - Encontrei-a no lixo antes de vocês me deitarem as unhas!

Gregório Policarpo e Jorge Neves, inspectores da PJ passaram uma última vistoria pelos apontamentos do caso antes de trocarem olhares. Policarpo dirigiu-se então a Jonas Venceslau. 

- Como lhe estávamos a dizer, não encontrámos o dinheiro na posse de nenhum dos suspeitos e… também não encontrámos o saco de desporto em lado nenhum. Mas eu e o meu colega temos uma ideia do que se terá passado. Não se preocupe, não tarda o seu filho está de volta a casa.

- Comparando os vários testemunhos, quem mentiu?

- O que levou os inspectores a deslindar o caso?

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Acerto de Facturação

Chegados ao final do primeiro mês de 2016 tornam-se mais óbvias as actualizações de preçários de todo um leque de comodidades que fazem parte do nosso dia-a-dia. Em alguns desses casos, nomeadamente na conta da electricidade, os acertos provocaram verdadeiros aumentos gastronómicos no orçamento familiar. Maria Albidalina Rodovalho relata: “Eu dantes pagava por volta de 48,00 euros de luz. Este ano, a conta de Janeiro foi 49,00 euros e uma travessa de sushi futomaki. Depois até tive problemas porque como não sei distinguir nada destas porcarias chinesas paguei com sushi mekajiki e obrigaram-me a ir tirar um curso de cozinha asiática.”

Mas não é só nas facturas que estas actualizações de ano novo trazem agruras. A revisão das remunerações de produção de energia, como no caso dos painéis fotovoltaicos, indignou alguns proprietários, conforme conta António Ecuménico Rodovalho: “O ano passado recebia 2,5% do valor de toda a electricidade produzida pelos meus painéis. Este mês já recebi a carta onde dizem que em 2016 só vou receber 1,5% e um cabaz de produtos regionais com enchidos, queijinhos, pães típicos, doces de produção caseira e um pipinho de enguias.”


REW

A lâmpada vermelha do semáforo deu lugar à silhueta intermitente de um humanóide verde marcando, com apitos aflitivos, a contagem do cronómetro do um, para o dois, para o três, para o quatro - seguindo de número em número até outra tentativa falhada de encontro entre os dois irmãos luminosos de cor distinta.

Atravessámos a passadeira parando, à espera que o sinal mudasse, do outro lado da estrada. Ela dobrou-se em convulsões de riso - resposta à minha piada parva - estacando de seguida, muito erecta, contemplando a total estupidez do que eu havia acabado de dizer durante meio minuto. Engoliu um cogumelo de fumo descendente, que se materializou no ar, e uma pitada de cinza saltou da primeira risca da “zebra” até à ponta do cigarro que fumava. Puxou uma fumaça. Num pequeno lampejo alaranjado o cigarro cresceu até se apagar, momento em que fechou o isqueiro e arrumou o cilindro de tabaco dentro do respectivo maço. Carregou o sobrolho e colocou o pacote cancerígeno na bolsa que usava à tiracolo. A sua expressão amainou e elevou os olhos ao alto.

- Vai tu - atirei sem pensar.

- Vai chover - disse ela examinando o céu plúmbeo.

INÍCIO


Uma Dose de Dados #03

Rubrica de considerações e ponderações demasiado prolixas sobre RPGs de mesa A Minha Estante: Star Ace Já se depararam com a express...