quinta-feira, 4 de abril de 2019

Uma Dose de Dados #02

Rubrica de considerações e ponderações demasiado prolixas sobre RPGs de mesa 

Introdução aos dados escaganifobéticos - Bloco I

Sem qualquer ponta de ironia, ou tom depreciativo, dizia um criador de jogos de mesa que os RPGs são uma sofisticação das brincadeiras de recreio como "polícias e ladrões", "príncipes e princesas" ou "brincar às casinhas." Pondo de parte a afectação que vem à toa do termo "sofisticado", é inegável que as semelhanças entre o faz-de-conta e um RPG moderno terminam na complexificação deste último. É necessário introduzir no processo um sistema de regras que permita a resolução de acções de forma imparcial, (até certo ponto) aleatória e alguém que as faça cumprir sem facciosismos.

Mas ao contrário do que se possa pensar, as regras não foram colocadas sobre a parte narrativa e fantasiosa do jogo para servirem de estrutura mecânica à estória e adjuvarem a acção. Pelo contrário, os RPGs de mesa modernos, que evoluíram dos Jogos de Guerra, foram-se tornando mais narrativos com o avanço dos tempos seguindo as propensões de cada nova geração de jogadores (por isso é que os mais funcionais exemplos de RPGs minimalistas em regras ou sem qualquer tipo de figura arbitral são comparativamente recentes).

Conjunto padrão de dados para D&D
Desta herança dos jogos de batalhas com miniaturas, muitos sistemas mantêm a resolução de tarefas por lançamento de dados, debrucemo-nos portanto sobre estes fascinantes sólidos geométricos numa breve exposição de factos, que não trará nada de novo a veteranos do género, mas que colocará jogadores e não jogadores em pé de igualdade quanto à nomenclatura utilizada neste nosso hobby.

A palavra "dado" remete-nos, habitualmente, para o bom velho hexaedro regular (cubo para os amigos) que ostenta nas faces os algarismos de um a seis; mas no mundo dos jogos de tabuleiro/mesa o universo destas ferramentas de aleatorização de resultados é um pouco menos restrito.

Os dados poliédricos são uma presença vulgar nos laboratórios de matemática para ensinar os sólidos platónicos de uma forma mais interactiva, mas a sua verdadeira vocação lúdica é cumprida naqueles momentos em que são utilizados para verificar, por exemplo, se um ladrão de nível 3 consegue fugir à guarda da cidade saltando de um telhado para outro sem se estatelar no chão.

Precisamente para lidar com esses momentos, os RPGs trouxeram com eles uma nomenclatura própria ("emprestadada" do Wargaming) para que conseguíssemos rápida e facilmente nomear o tipo de dado que é preciso para um tipo específico de acção ou resultado. Seria custoso, e até um pouco ridículo, em todas as sessões de um jogo dizer coisas como:

"Acertaste no Orc Ensandecido com o teu montante. Lança um decaedro para determinar dano." ou "O sistema de cibersegurança da mega-corporação descobre-te no ciberespaço. Uma descarga eléctrica sobe pela ficha que liga o teu interface neural à consola. Recebes dois octaedros de dano."

Portanto os dados são abreviados para a letra d (de dado - surpreendente, não é?) seguida do número de faces planas que possuem (um dado cúbico tem seis faces, como tal, é um d6). Simples e eficaz.

Curiosidade: sabiam que alguns RPGs que usam resolução por "cara-ou-coroa" chamam às moedas, d2 (dado de duas faces)?

O inusitado d100
Apesar de cada sistema de Role Play poder ter os seus próprios requisitos em termos de tipo e número de dados necessários, devido à prevalência e fama do Dungeons & Dragons, o chamado conjunto base de dados para RPG a nível internacional é o conjunto de sete peças utilizado pela quinta edição das regras de D&D composto por d4, d6, d8, d10, d12, d20 e um d10 especial (abreviado d00, numa excepção ao que vimos acima) que, juntamente com o d10 normal, apelidamos de dados de percentil ou percentagem e que substituem o desajeitado - mas curioso - d100 no que toca a obter resultados que vão de uma unidade a uma centena (por esta razão o conjunto do d10 e d00 é também por vezes chamado d100).

E pronto, agora, quando ouvirem um jogador de RPGs dizer que a arma que comprou na última sessão provoca 3d6 de dano, já sabem que isso significa que ele/ela tem de lançar três dados de seis lados sempre que conseguir atacar com sucesso aqueles esqueletos malandros que estão sempre à espreita num cemitério coberto por um manto de neblina.

Até à próxima!

E não se esqueçam de fazer coisas boas em cima da mesa.
Como jogar, por exemplo.🎲

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