O Telefone das Más Notícias
Num mundo cada vez mais “infectado” por meios de comunicação portáteis, receber um telefonema numa linha fixa só pode, com certeza, ser arauto de desgraças.
Gregório Policarpo, Inspector
Vladimiro Venceslau, filho primogénito de Jonas Venceslau, estava desaparecido desde terça-feira. Quarta de manhã, um indivíduo, identificando-se como único raptor, telefonou para a vivenda com um rol de exigências. O Venceslau mais novo (Eurico) teria de levar o dinheiro, em notas usadas de baixa denominação, num saco de desporto sem estampas. Foi-lhe detalhado o percurso que teria de fazer com o seu automóvel desde casa até um estacionamento pago da Baixa. Levaria depois o saco por uma quelha estreita da cidade que desembocava num parque infantil onde o deixaria dentro de um caixote do lixo.
Jonas Venceslau, apesar de conhecido sovina, prontamente e de bom grado aceitou os termos do resgate: pagamento à meia-noite, meio milhão de euros e nada de polícias.
- Eu estava mais ou menos a meio do beco - testemunhou Eurico - quando ouvi passos atrás de mim. Antes de me conseguir virar deram-me uma pancada seca na cabeça. Caí no chão mas não perdi logo os sentidos. Consegui ver as costas do gajo à luz do candeeiro de rua. Não sei dizer como era a cara dele porque não o vi de frente. Fugiu com o saco na mão. Era um tipo alto com sapatilhas brancas. Vestia calças de ganga e um casaco de malha de lã escuro. Peço desculpa mas não consigo ser mais específico.
Graças ao que apenas pode ser descrito como uma boa dose de sorte - raríssima na maioria dos casos criminais - um agente da PSP encontrou Eurico pouco tempo após o ataque. Reportou o crime e um carro-patrulha acorreu de imediato ao local. Dois indivíduos suspeitos, correspondendo à caracterização fornecida por Eurico, foram apreendidos nas proximidades.
- Então e agora é crime correr na rua? - declarou Pedro Bordão iradamente. Havia sido encontrado a duas ruas do local do ataque e desatou a correr assim que viu o carro da polícia. Pedro tem um longo cadastro de delitos menores - Estou em liberdade condicional mas levo uma faca no bolso. Para me proteger, é que há muito bandalho por aí à noite. Vê porque é que fugi?
O segundo suspeito é Arnaldo Amado, um sem-abrigo conhecido na zona.
- Epá, esta camisola nem sequer é minha! - protestou enquanto desabotoava um casaco de lã bastante usado - Encontrei-a no lixo antes de vocês me deitarem as unhas!
Gregório Policarpo e Jorge Neves, inspectores da PJ passaram uma última vistoria pelos apontamentos do caso antes de trocarem olhares. Policarpo dirigiu-se então a Jonas Venceslau.
- Como lhe estávamos a dizer, não encontrámos o dinheiro na posse de nenhum dos suspeitos e… também não encontrámos o saco de desporto em lado nenhum. Mas eu e o meu colega temos uma ideia do que se terá passado. Não se preocupe, não tarda o seu filho está de volta a casa.
- Comparando os vários testemunhos, quem mentiu?
- O que levou os inspectores a deslindar o caso?
- O que levou os inspectores a deslindar o caso?
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