Rubrica de considerações e ponderações demasiado prolixas sobre RPGs de mesa
Pela toca do coelho adentro
Pela toca do coelho adentro
Numa encruzilhada entre o teatro de improviso e os jogos de tabuleiro encontra-se esse fantástico exercício de imaginação, esse faz-de-conta regrado, o Role Playing Game de papel e caneta; e não há nada exactamente igual a um grupo de amigos reunidos à volta de uma mesa a encarnarem uma miríada de personagens fantásticas que vivem um sem-número de aventuras mirabolantes.
Da fantasia medieval de Dungeons & Dragons e Pathfinder, passando pelo horror cósmico de Call of Cthulhu, pelo futurismo decadente do Cyberpunk 2020, chegando até (caso nenhum universo pré-fabricado nos excite o imaginário) aos sistemas de RPG genéricos como o FATE Core ou Savage Worlds, existe uma infinidade - tão vasta quanto a nossa própria mente - de opções deste tipo de diversão.
Com ajuda de uma mão cheia de dados (das mais variadas cores e feitios) e da orientação sempre amistosa - ou não - do/da GM (do ing. game master; designação internacional pela qual são conhecidas as pessoas que dirigem/arbitram uma sessão de RPG, responsáveis por criar todo o ambiente que rodeia as personagens dos jogadores, por colocar obstáculos no caminho destas e por fazer aplicar as regras quando necessário), cada membro do grupo colabora para contar parte de uma estória onde interpretam papéis de relevo: aventureiros a desbravar cavernas repletas de tesouro enquanto tentam escapar às armadilhas e bruxarias de um carocho que quer usar os seus ossos como ingrediente para construir um filactério que o tornará imortal; mercadores espaciais acidentalmente envolvidos numa operação de contrabando que trará novo equipamento a um grupo de rebeldes que pretende destronar o tirânico império galáctico vigente; agentes da autoridade que tentam desesperadamente encontrar a família raptada do presidente antes que este assine o perdão de vários membros de um sindicato de crime organizado; amorais espiões industriais contratados por uma mega-corporação para roubarem os segredos da concorrência; detectives privados a investigarem um homicídio invulgar que depressa desemboca numa conspiração repleta de traições e ocultismo; etc.
Uma mescla de Júlio Verne com H.G. Wells |
A minha primeira incursão por este fantástico hobby, infelizmente pouco jogado em Portugal, foi no dealbar do novo século - nos idos áureos do mIRC - quando conheci um jovem norte-americano num canal dedicado, maioritariamente, à discussão e partilha de banda desenhada japonesa. Em conversa sobre vários temas geek acabou por me aliciar, juntamente com mais três pessoas, a jogarmos uma sessão do seu RPG favorito, Space 1889, passado numa época vitoriana alternativa em que as viagens espaciais e a colonização do sistema solar eram uma realidade.
Uma sessão sem exemplo tornou-se uma campanha que demorou quase três anos a terminar e após as nossas personagens terem rumado em direcção ao pôr-do-sol (na verdade roubaram um navio espacial e zarparam para fora do sistema solar - provavelmente acabaram perdidas e esquecidas na imensidão cósmica, mas vamos pensar que viveram felizes para sempre) apercebi-me que o "bichinho" do RPG estava firmemente plantado em mim. É com esse mesmo "bichinho" que vos quero também infectar, convidando-vos para abrirem a mente, darem asas à fantasia e me acompanharem todas as semanas - se a procrastinação e o ócio não levarem a melhor - em pequenas viagens pelo mundo dos RPGs de mesa. Talvez no futuro nos encontremos à volta de um mapa desenhado em papel quadriculado.
Não se esqueçam: há muita coisa boa que se pode fazer numa mesa, mas uma delas é jogar.
Até à próxima!🎲