quarta-feira, 16 de julho de 2014

Pascoalidade Nacional

- No dia em que é conhecido o relatório do estudo encomendado pelo PSD no que concerne os índices de natalidade em Portugal, cabe-nos a nós relembrar a tantas vezes olvidada questão da pascoalidade nacional. É francamente alarmante que tão poucas pessoas ressuscitem em solo português não é assim Dr. Eleutério Rodovalho?

- É isso mesmo... Antes de mais deixe-me só desejar-lhe uma boa noite e um bem-haja por me ajudar a dar voz a esta situação de queda a pique dos números de ressuscitados no nosso belo país à beira-mar plantado...

- Mas diga-me uma coisa, qual é efectivamente, no presente, o número médio diário de ressuscitações entre os defuntos lusitanos?

- Ora bem... vou só consultar aqui os meus canhenhos... exacto, como eu temia é zero.

- Zero.

- Correcto, nota-se que presta atenção.

- Então e em termos gerais ou históricos, quantas pessoas voltaram à vida depois de, digamos, baterem a caçoleta?

- Em registo, e friso bem isto, EM REGISTO apenas uma pessoa em toda a história de Portugal ressuscitou e é uma vergonha que estejamos tão abaixo da média europeia em matéria de re...

- Dr. Eleutério desculpe interrompê-lo... Uma pessoa? Quem?

- Ora, eu pois está claro!

- O senhor.

- Sim, sim. Mas atenção que já o fiz várias vezes durante os séculos. Enfim, vou tentando fazer a minha parte para colmatar as lacunas que o governo permite ficarem mais vincadas de ano para ano.

- O Dr. Eleutério está a gozar connosco?

- Eu percebo que é bastante constrangedor ter a verdadeira noção da escassez destes números, mas temos que ultrapassar o choque e tentar perceber os porquês. No meu relatório faço menção à falta de condições que temos neste campo, condições que seriam essenciais para não afastarem os jovens defuntos deste tão importante passo na vida de cada um.

- Mas qual falta de condições?

- Também usava esse tom céptico quando comecei a pesquisa para este meu trabalho mas basta olhar para os outros exemplos que temos e rapidamente vemos que algo não está bem. Jesus, um alfacinha de gema decidiu ressuscitar no estrangeiro - no Médio Oriente veja bem!

- Então mas espere aí, Jesus não nasceu em Lisboa, nasceu em Belém.

- Ó amigo, francamente! Que não saiba nada de ressuscitações ainda é como o outro e para isso é que aqui estou. Agora, não me peça para lhe ensinar geografia local! Onde é que fica Belém, santinho?

- Estou em crer que Belém onde nasceu Jesus e Belém freguesia de Lisboa são dois sítios diferentes...

- Sim, e querem lá ver que os dinossáurios também habitaram a terra há milhões de anos atrás?

- Erm... há fortes indícios a apontar para isso.

- Olhe pois a mim não me enfia esse barrete porque eu estava lá! Na altura em que dizem que havia lagartos gigantes a galgar o planeta estava eu a tentar ressuscitar a primeira vez. E lá consegui depois de algumas falsas partidas.

- Peço desculpa Dr. Eleutério, notícia de última hora: a Terra vai explodir dentro de dez minutos. Depois do intervalo continuaremos a emissão do núcleo interno terrestre, composto por ferro e níquel, de onde acompanharemos a hecatombe até ao seu último segundo. Até já.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Bom dia Dona Pêga. O seu esposo como vai?

Empurrada pelo medo do que acabara de acontecer à sua frente, Clara tombou no vazio do penhasco que se abria nas suas costas. Abraçada pela noite, desapareceu no anonimato do nevoeiro compacto amontoado no fundo da ravina, cotão meteorológico aglutinado por uma vassoura gigante.

Sigesmundo havia de se recordar muitos anos deste episódio. De sentir o guincho estridente dela como um gume gelado que lhe dançava pela espinha - para cima, para baixo - por breves mas perenes segundos. Da pancada seca de aflição que o atordoou, raiando da base da nuca para todas as extremidades, enquanto Clara soçobrava, languinhenta, naquelas nuvens baixas...

À Procura das Japoneiras

Controlar a respiração era mais complicado do que se recordava.

A falta de exercício tinha-lhe deixado o corpo perro, os músculos e tendões carcomidos pela ferrugem da inércia, mas agora não havia volta a dar: tinha-se comprometido consigo próprio e não ia falhar. Fazia uma cruz no calendário em cada dia que planeava fazer jogging, para bem da sua saúde física e mental.

Enquanto ponderava estas questões, absorto, passaram por si vários postes e sinaléticas verticais que gritaram, em conjunto com os edíficios do quarteirão, a crescente infamiliaridade dos locais por onde se embrenhava.

Dobrou uma curva que enveredava por uma viela acima da qual emergiu apenas o passeio...

Uma Dose de Dados #03

Rubrica de considerações e ponderações demasiado prolixas sobre RPGs de mesa A Minha Estante: Star Ace Já se depararam com a express...